A queda na taxa de desemprego é digna de comemoração? 

Bruce Petersons
Bruce Petersons

Hoje o IBGE divulgou sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), sobre o mercado de trabalho no Brasil. Como já comentamos em outras ocasiões, esse indicador é defasado, seja em sua divulgação – os dados são do trimestre terminado em junho –, seja porque a taxa de desemprego tem uma característica de ser uma das últimas variáveis a reagirem ao ciclo econômico. Ela ficou em 14,1% nos três meses até junho, abaixo do consenso de mercado (14,4%), mas ainda acima do nível do ano anterior (13,3%) e nos temíveis dois dígitos. Mas de fato, na margem, houve pequena melhora no indicador, em linha com a recuperação da atividade econômica no primeiro semestre do ano. Ou seja, a população ocupada aumentou, tivemos mesmo mais empregos no país.  

Porém, o desalento ainda preocupa, tanto que a taxa de participação no mercado de trabalho continua deprimida, cerca 3,0 pontos percentuais abaixo da marca pré-crise (fevereiro de 2020). Isso significa que ainda há espaço ocioso no mercado de trabalho, mas, considerando a conjuntura do país, não está tão promissora nem encorajadora a busca por empregos. Quando olhamos por segmento, o emprego informal teve maior ímpeto de crescimento que o formal. O emprego informal atingiu seu maior nível pós-pandemia. Lembrando que esse setor foi o que mais sofreu com as restrições de mobilidade para contenção do vírus, sugerindo que, mesmo no segundo trimestre, quando ainda tínhamos certa imobilidade imposta, a aceitação da população para as regras parece ter sido menor.

 

De fato, os dados do mercado de trabalho indicam melhora para alguns setores mais dependentes de interação social, como mostra o crescimento do emprego informal nos dados da Pnad e também a geração de empregos formais no setor de serviços no Caged. Considerando esse aspecto, o avanço da vacinação e a consequente queda das restrições de mobilidade urbana, o mercado de trabalho deve aquecer um pouco mais, com continuidade de queda na taxa de desemprego. Porém, ainda é cedo para cantar vitória. Houve uma melhora, sim, mas mas os níveis pré-pandemia estão longe de serem atingidos. Como as expectativas para crescimento econômico em 2022 têm chance de grande frustração, aliada à incerteza imposta em ano eleitoral, acredito que a tendência de melhora do mercado de trabalho pode ser mais tímida do que boa parte dos analistas esperam. 

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