CPI da Covid-19 prepara ‘ato final’ em audiência com familiares de vítimas da doença

Bruce Petersons
Bruce Petersons

A quem se acostumou com a rotina de oitivas da CPI da Covid-19, um aviso: a comissão caminha para o seu fim. Depois de mais 40 depoimentos, 15 semanas de trabalhos e quase dois terabytes de dados recebidos, equivalentes a mais de 300 mil fotos, cerca de 500 horas de vídeo ou 7 milhões de páginas de documentos, a cúpula do colegiado se prepara para entregar o relatório, uma incumbência do senador Renan Calheiros (MDB-AL), no início da segunda quinzena de setembro. Enquanto ainda mantém em seu radar o caso Covaxin, uma das principais linhas de investigação, os parlamentares preparam um ato final: uma audiência com familiares de vítimas da doença. Até o início da noite desta sexta-feira, 20, o país registrou 573.511 mortes. Segundo o calendário preliminar de oitivas, obtido pela Jovem Pan, há ainda a previsão de ouvir testemunhas ligadas aos hospitais federais do Rio de Janeiro e o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco Filho, braço-direito do ex-ministro Eduardo Pazuello na pasta e personagem que centralizou as tratativas para a compra de vacinas. Com a conclusão dos trabalhos, o texto será encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR).

Como a Jovem Pan mostrou, na próxima semana, os senadores pretendem encerrar a apuração do caso Covaxin, uma das principais linhas de investigação da comissão – para isso, serão ouvidos personagens ligados ao líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). Além disso, na quinta-feira, 26, será ouvido o ex-secretário de Saúde do Distrito Federal Francisco Araújo Filho, que chegou a ser preso no âmbito da Operação Falso Negativo, que apura fraude na compra de testes de Covid-19 vendidos pela Precisa Medicamentos ao governo do DF (GDF). Depois disso, segundo o cronograma estipulado, haverá oitivas com a CEO da VTCLog, empresa com contratos de logística com o Ministério da Saúde, com Ricardo Santana, tido como lobista pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), com três representantes de hospitais federais do Rio de Janeiro e com o coronel da reserva do Exército Elcio Franco Filho, o número dois da Saúde na gestão Pazuello. O segundo depoimento do militar já foi aprovado e é tido como fundamental pelos senadores, sobretudo, para esclarecer detalhes sobre a atuação do governo no campo da imunização. Além de ter centralizado na Secretaria-Executiva da pasta a negociação para a aquisição de vacinas, o braço-direito de Pazuello pediu a retirada da população carcerária dos grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI), como afirmou a ex-coordenadora do PNI Francieli Fantinato em seu depoimento à CPI.

Com a prorrogação, a CPI da Covid-19 poderá, a princípio, trabalhar até o início de novembro. Apesar disso, os senadores esperam entregar o relatório ainda no mês de setembro. Reservadamente, os integrantes do colegiado admitem que, apesar das revelações do caso Covaxin e da robustez das informações obtidas através dos documentos em posse dos parlamentares, a comissão perdeu o poder de mobilizar o noticiário político – o último grande fato, diz um titular, foi a revelação feita pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF), segundo o qual o presidente Jair Bolsonaro citou o seu líder na Câmara, Ricardo Barros, como “dono do rolo” feito para a compra dos imunizantes indianos. O grupo majoritário também evitar que o coro da tropa de choque governista ganhe musculatura: nas últimas semanas, os senadores aliados ao Palácio do Planalto tem dito que o G7 tem girado em falso e insistido em “narrativas”. Este, inclusive, foi um dos motivos pelos quais a acareação entre Miranda e o ministro do Trabalho e Previdência Social, Onyx Lorenzoni, foi cancelada. Por isso, a cúpula da CPI quer aproveitar o “timing” para concluir os trabalhos ainda em alta.

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