Crise política afasta investimentos, apesar dos sinais de melhora da economia

Bruce Petersons
Bruce Petersons

Quando se olha os fundamentos, a economia tem dado sinais seguidos de melhora. Na semana passada, o governo indicou que deve terminar o ano com um déficit (isto é, a diferença entre gastos e arrecadação) de R$ 70 bilhões. Caso seja confirmado, é o menor saldo negativo desde 2014. De lá para cá, sempre tivemos déficits bem maiores, geralmente acima dos R$ 100 bilhões. A taxa de juros, atualmente em 5,25% ao ano, pode estar em trajetória de alta, mas bem abaixo dos níveis históricos, exceto em 2020, reduzida a 2% por conta da crise da Covid-19. Nos outro anos, sempre esteve mais alta.

Em setembro de 2019, estava em 5,5% — e em um patamar superior também de 2016 a setembro de 2018 — nesse primeiro, acima de 14%. O país também aprovou uma reforma importante, a da Previdência. O Congresso vinha discutindo a administrativa e a tributária, inclusive com a Câmara já tendo aprovado a redução da tributação das empresas. Mesmo a pandemia dá sinal de que está recuando no país. Com o avanço da vacinação, o Brasil tem, aliás, uma das melhores taxas de adesão da população à vacina entre as maiores economias do mundo.

Tudo isso deveria levar a uma percepção melhor do país, mas, com a crise política, que ganhou mais um capítulo neste 7 de setembro, a economia está pagando um preço. Faz com que analistas e investidores vejam o brasil como uma fábrica de crises com fundamentos sólidos, mas instável e incapaz de lidar com os problemas graves que ainda persistem, como mais de 14 milhões de desempregados, inflação colada nos 10% no acumulado de 12 meses (divulgada ontem) e uma crise sanitária. Qual o investidor vai colocar dinheiro em um país onde há radicalização política e sinais de que a democracia está em risco?

Em consequência, há uma fuga de investidores da Bolsa. Não só estrangeiros, mas também brasileiros. Gestores estão botando cada vez mais dinheiro no exterior e menos aqui, e não são só os grandes. Instrumentos como as BDRs, papéis que permitem investir em empresas no exterior, estão cada vez mais populares. O grande economista liberal Roberto Campos dizia que o Brasil nunca perde a oportunidade de perder oportunidades. Com mais uma crise fabricada, parece que ele tinha razão.

Share This Article