‘Cumplicidade com o golpismo’: A reação do Senado ao pronunciamento de Arthur Lira

Bruce Petersons
Bruce Petersons

No momento em que a relação entre as duas Casas sofre os efeitos de uma “trombada”, como disse à Jovem Pan o líder do governo no Congresso Nacional, os senadores criticaram o pronunciamento do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em resposta aos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”. Em sua fala, Lira disse que “é hora de dar um basta a essa escalada”, ressaltou que a Constituição “jamais será rasgada”, mas não citou a palavra impeachment.

Em uma publicação em seu perfil no Twitter, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que “a covardia é um sentimento que nunca teve e nunca terá espaço na História” e acrescentou que lamenta “os posicionamentos acanhados e que beiram a cumplicidade com o golpismo”. “Lamento os posicionamentos, como os de Arthur Lira e Augusto Aras, que beiram a cumplicidade com Jair Bolsonaro. Saúdo e cumprimento o pronunciamento do Presidente do STF, Luiz Fux. A Corte pode contar com nosso apoio. A história colocará no devido lugar os que defenderam a democracia, os que se acovardaram e os que foram cúmplices de criminosos”, disse o líder da Oposição na Casa.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), líder da bancada feminina no Senado, ironizou a reação de Lira às falas de Bolsonaro. “Nero continuará tocando ‘Lira’ depois de botar fogo em Roma. Quo Vadis? Até quando?”, questionou. A parlamentar faz alusão à lenda romana segundo a qual o imperador romando Nero teria subido ao teto de seu palácio e começado a tocar o seu instrumento de corda enquanto apreciava os efeitos do fogo que atingia a cidade. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente da CPI da Covid-19, citou uma frase do presidente da Câmara ao final de seu discurso para criticar o teor da declaração. Em um trecho que deveria ter sido removido pela edição, o que não ocorreu, Lira comentou com um de seus assessores que “teve um errinho ali, básico, né?”. “A única verdade no discurso de Lira, mesmo assim parcial, veio na confissão do final: ‘teve um errinho básico ali’. Não foi só um erro, foram vários, mas o pior de todos foi eleger Bolsonaro. Vamos corrigir, seja pelo impeachment ou pela eleição, pois só assim sairemos do caos”, escreveu Vieira.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES), por sua vez, escreveu que Lira “sinalizou que se omitirá diante dos desmandos de Bolsonaro”, acrescentando que “um presidente da República fraco e definhando signifca uma Presidência da Câmara forte e dando as cartas: não é difícil entender a matemática desse interesse”. Como a Jovem Pan mostrou, o diagnóstico de Contarato é endossado por deputados do Centrão: enquanto tiver o controle de um montante expressivo em emendas, o que lhe garante influência junto aos pares e pode pavimentar seu caminho na busca pela reeleição para o comando da Casa, Lira não irá se voltar contra o mandatário do país.

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