Dólar e Ibovespa caem à espera da decisão dos juros e com risco fiscal no radar

Bruce Petersons
Bruce Petersons

O dólar e a Bolsa de Valores brasileira fecharam em queda nesta quarta-feira, 4, horas antes de o Banco Central divulgar a nova taxa de juros e com a volta do risco fiscal ao radar. A divisa norte-americana encerrou o dia com recuo de 0,13%, a R$ 5,186. O câmbio chegou a atingir o pico de R$ 5,246, enquanto a cotação mínima não passou de R$ 5,165. O dólar encerrou a véspera com alta de 0,53%, a R$ 5,193. O Ibovespa, referência da B3, fechou com queda de 1,44%, aos 121.801 pontos. O pregão desta terça-feira, 3, encerrou com avanço de 0,87%, aos 123.576 pontos.

A recente aceleração da inflação faz o mercado apostar em um acréscimo de 1 ponto percentual na Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom), elevando a taxa de juros para 5,25%. No último encontro, em junho, o colegiado sinalizou que deveria repetir a dose de 0,75 ponto percentual, mas “deixou a porta aberta” para um acréscimo mais robusto. O mercado financeiro voltou a elevar a perspectiva para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial da inflação brasileira, para 6,79%. Esta foi a 17ª semana consecutiva que a estimativa é revisada para cima. Na edição passada, a previsão indicava alta de 6,56%. O BC persegue a meta inflacionária de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, entre 2,25% e 5,25%. A prévia do índice foi a 0,72% em julho, o maior valor desde 2004, e acumulou 8,59% nos últimos 12 meses. Os analistas do mercado também revisaram para cima a expectativa para o IPCA de 2022, de 3,80% para 3,81%. A meta para o BC no ano que vem é de 3,50%, com variação entre 2% e 5%. Apesar do novo avanço com as expectativas para a inflação, o mercado manteve a previsão da Selic, a principal ferramenta do BC para conter a variação dos preços, em 7% ao ano em 2021 e 2022.

Investidores também repercutem a volta do risco fiscal após a nova crise de precatórios e os debates ao redor da reformulação do Bolsa Família. Parte do fundo que o governo quer criar com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios será destinado para o pagamento de ações sociais. O documento, preparado pelo Ministério da Economia, já foi entregue à Casa Civil e será apresentado ao Congresso nesta quinta-feira, 5. O Executivo também deve apresentar nesta semana a Medida Provisória (MP) que cria o Auxílio Brasil, como será chamado o novo pacote de ajuda aos mais vulneráveis, como o Bolsa Família. A PEC dos precatórios, como são chamadas as dívidas da União que não cabem mais recursos judiciais, propõe a formação de um fundo com recursos de privatizações e a venda de outros ativos públicos, como imóveis. O projeto da equipe econômica determina que 60% dos recursos desse fundo sejam para abater dívida pública, 20% para o pagamento de precatórios e 20% destinados para a área social.

O fundo está sendo desenhado para ficar fora do teto de gastos, a regra aprovada em 2016 e que limita os gastos da União ao orçamento do ano anterior corrigido pela inflação. No raciocínio da Economia, as receitas originárias das privatizações e venda de ativos não são correntes e não se enquadram às regras da barreira fiscal.  texto determina que o valor de precatórios pagos anualmente seja limitado a 2,6% da Receita Corrente Líquida (RCL). Os pagamentos serão divididos em três faixas: todos os precatórios de até R$ 66 mil serão pagos imediatamente; as dívidas acima de R$ 66 milhões, chamadas de superprecatórios, serão parceladas com uma entrada de 15% do valor em 2022 e o restante dividido em nove parcelas anuais iguais; os valores no meio desses extremos serão organizados em ordem crescente. Pelas contas do governo, o orçamento tem recursos para a quitação de todos os precatórios abaixo de R$ 450 mil.

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