O que é pior: praticar o racismo ou usar o combate ao racismo para se promover?

Bruce Petersons
Bruce Petersons

Esta semana, chamou minha atenção a notícia de que a Ável, empresa ligada à corretora XP Investimentos, foi processada por entidades civis de movimentos negros, feministas e de defesa dos direitos humanos. A ação civil pública movida contra a startup acusa a empresa de falta de diversidade e pede o valor de R$ 10 milhões por ressarcimento de danos morais, sociais e coletivos, exigindo que se tomem providências a respeito. Tudo isso baseado em uma foto postada pela Ável, do corpo técnico da organização, com mais de cem pessoas brancas. De fato, concordo que a imagem de uma única foto retratou a ausência de diversidade. Porém, não justifica todo esse estardalhaço, em que determinados grupos, adeptos ao patrulhamento, queiram se valer do ocorrido para tirar proveito, inclusive financeiro. Acho inaceitável que se “cobre” uma quantia em dinheiro por um suposto “crime”, que nem existe no código penal. Não estou negando que o racismo deva ser combatido em todos os setores da sociedade. Pelo contrário. É visível que ainda existe um caminho a ser percorrido em prol da redução da pobreza, longe de ser encurtado. O que me incomoda é que, em situações como esta, grupos de interesse se valem de um único argumento para reverter a questão em favor de seus interesses. Os próprios “envolvidos”, no caso, a população negra no mercado de trabalho, não terão benefício algum com essa ação, restrita a dirigentes de determinadas entidades. O que é pior: praticar o racismo ou usar o combate ao racismo para se promover? Ambos execráveis pra mim. Vale uma reflexão.

A Ável, um dos maiores escritórios de assessoria da XP, se localiza em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Em seu site, aparece que, entre os funcionários, a porcentagem de mulheres é de apenas 8%. Prato cheio para os defensores dos “mimimis” se valerem do fato e aguçarem as representações feministas a “caírem de boca” no episódio ocorrido na empresa, em razão da foto postada e dos números do site. Diante de todas as manifestações, a XP, procurada pela UOL, reconheceu que “a inclusão de pessoas negras na companhia e na rede de parceiros é uma questão fundamental” e que deve criar metas para “aumentar a contratação, em todos os cargos, de pessoas negras, mulheres, LGBTQIA+ e PCDs”. Um dos pronunciamentos a esse respeito foi do Frei Davi, teólogo e filósofo, fundador da ONG Educafro, uma das entidades que moveram a ação. Segundo ele, pedir a indenização foi uma forma de utilizar o “instrumento de luta dos poderosos”, após décadas de tentativas de diálogos em favor da equidade e da inclusão. A meu ver, uma manobra intencional de abrir um confronto entre grupos – considerados por ele como opostos –, quando, na realidade, é tempo de tentarmos unir as forças para que a sociedade encontre um equilíbrio para todas essas questões, sem se valer de oportunismos pontuais que desvirtuam o real objetivo.

É inegável que a questão da falta de diversidade exista no mercado de trabalho. Mas, a pergunta que mais importa é: como vamos solucionar essa questão? Segredando? Dividindo? Não. Tenho uma visão muito clara sobre isso: a solução está em acreditar, cada vez mais, no capitalismo e em seus valores universais. O combate à desigualdade por meio de políticas públicas sociais é falho no Brasil, e eu vou explicar. O Estado, ao querer manter relações com o mercado, acaba promovendo a corrupção e prejudica a emancipação dos estratos sociais mais vulneráveis da nossa sociedade. Mais capitalismo significa mais enriquecimento e maior padrão de vida para todos os brasileiros, sejam brancos, negros ou de qualquer outra cor. Oportunidades precisam ser geradas, mas não podemos julgar a produtividade de um profissional pela cor de sua pele. Isso é um grande equívoco. Estamos empobrecendo a interpretação de conceitos básicos, tais como, liberdade, meritocracia, resultados e competitividade. É preciso menos lacração e mais efetividade por parte dos “reclamadores de plantão”.

De nada adiantam manifestações de ordem pessoal, ou de grupos tendenciosos – que não representam as intenções populares sobre questões como a diversidade – e que, sim, buscam se beneficiar financeiramente de acontecimentos que conotam uma falta de preocupação com a diversidade, como a repercussão da imagem dos funcionários da XP. Muito menos, empresas como essa financeira devem se submeter a esse tipo de reivindicação. Devem buscar reduzir as diferenças, sejam elas de qualquer natureza, com ações firmes, sem que se vejam à mercê de grupos que se aproveitam de fatos específicos para tirar proveito. É triste se ver que, de fato, ações como essa, em vez de repercutirem em favor de causas como a redução da pobreza, servem para incitar o ódio entre as partes – que deveriam ser uma só – e se desviar do caminho inclusivo e justo. Foco no que realmente interessa.

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