Os sentimentos na era digital: #culpa

Bruce Petersons
Bruce Petersons

Culpa é uma palavra feminina. Não é à toa. Não que os homens não sintam culpa, imagina. Mas as mulheres têm um apreço especial por esse sentimento tão desagradável e, ouso dizer, inútil. Quem disse que a gente tem que ser a Mulher Maravilha da maternidade, a capitã Marvel das donas de casa, a Batgirl das esposas, a She-Ra na TPM e a Supergirl no trabalho? Quem disse que temos que salvar o mundo todo dia e ainda ter o corpo de todas elas juntas? Sentir culpa é ser cruel com a gente mesma. Por exemplo: O moleque vem correndo, tropeça no Pokémon, cai com a testa numa peça de lego, chora. Pronto, um prato cheio: #aculpaehminha. Minha filha, o que você acha que poderia ter feito? Ficar que nem a Galinha Pintadinha empoleirada ao lado do seu filho, sair correndo junto com ele, afastar o Pokémon do caminho e colocar uma almofada para ele meter a testa? Tenha bom senso e se perdoe por não ter feito essa loucura.

Um cliente potencial não fechou o trabalho que eu orcei. O básico: eu devia ter cobrado menos (se ele tivesse fechado na hora você ia achar que devia ter cobrado mais). Será que ele não foi com minha cara? Será que foi porque eu não escrevi obrigada com três exclamações no e-mail? #culpaaaaa. Você está vendo um seriado e não para de pensar: eu poderia estar lendo um livro. Você está lendo o livro: eu devia estar meditando. Está meditando: caramba! Esqueci de comprar a ração da cachorra. Não tem fim. #hajaculpa. Abriu a geladeira. Não estou com fome, não estou de TPM, não estou com hipoglicemia… ah, que se dane, vou comer esse bolo de morango com leite condensado e é já. Prazer intenso. Não precisa nem acabar de comer #culpatotal. O antídoto para a #culpa é o #f***-se. Não é fácil de usar, mas quando conseguimos é uma sensação tão boa e libertadora quanto deitar no sofá e assistir Emily em Paris tomando Coca normal na quarta à tarde. Mesmo com o mundo desabando ao redor.

Share This Article