Quais vulcões ativos podem ameaçar o Brasil? Terremoto em Lisboa já causou tsunami que atingiu o litoral brasileiro

Bruce Petersons
Bruce Petersons

A erupção do vulcão Cumbre Vieja, localizado em La Palma, uma das Ilhas Canárias na costa da África, levantou uma preocupação atípica no Brasil: por dias, comentou-se que um tsunami poderia atravessar o oceano Atlântico e atingir o nordeste do país em caso de uma explosão de maior magnitude. Os rumores tinham como base um estudo feito no início dos anos 2000 pelo Instituto de Geofísica e Física Planetária da Universidade da Califórnia. O documento projetava que uma explosão de grande proporção capaz de causar um colapso lateral nas paredes do Cumbre Vieja poderia derrubar mais de 500 km³ de destroços na água e gerar uma tsunami que afetasse a África Ocidental, o litoral do Reino Unido, atravessasse o oceano e causasse uma sequência de ondas de até 25 metros de altura nas costas da América do Norte e do Sul.

No “pior cenário” analisado pelos pesquisadores, uma onda gigante gerada pelo colapso do vulcão atingiria outras ilhas da região em menos de 10 minutos, chegaria à costa da África em uma hora e às Américas em cerca de seis horas, atingindo os Estados Unidos nove horas após a explosão. Para isso, porém, seria necessária uma explosão de altas proporções que fosse forte o suficiente para destruir a ilha de La Palma, que tem mais de 85 mil habitantes. De qualquer forma, a possibilidade de ocorrer um colapso do vulcão já foi completamente descartada pelo governo das Ilhas Canárias. Especialistas no assunto lembram que o estudo, debatido há duas décadas, levava em consideração condições “extremas”, o que torna desnecessário o desespero em torno do assunto. “Era cientificamente possível, mas era muito pouco provável que fosse acontecer. Apesar de ter acontecido nos períodos geológicos, nos tempos históricos não há nenhuma evidência desse tipo”, explica Bruno Collaço, do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo.

Ele conta que um vulcanismo de magnitude próxima a oito pontos na Escala Richter foi usado na projeção do estudo, algo que nunca ocorreu na história recente. “O que a gente tem nos últimos milênios gira em torno de cinco pontos. Então, as chances são muito baixas”, pontua. Há no mundo vulcões ativos geograficamente que estão mais próximos do Brasil, como o Vulcão do Fogo, na Guatemala, e o Pico do Fogo, em Cabo Verde. Ainda assim, a erupção de nenhum deles é considerada perigosa para o país latino. “Nenhum vulcão apresenta risco sério para o Brasil, eles estão muito longe para isso acontecer”, estima.

mapa de placas tectônicas

Mapa delimitando placas tectônicas mostra localização privilegiada do Brasil | Foto: Prof. Peter Bird’s map/Eric Gaba/Creative Commons

A nossa localização no mapa do mundo é a peça-chave que torna o Brasil “abençoado” em questões sismográficas. Quando olhamos para o desenho das placas tectônicas, blocos que formam a litosfera terrestre e causam terremotos quando se acomodam ou se chocam, é possível ver que o país está no centro da grande placa sulamericana. “Geralmente o vulcanismo nasce nos encontros das placas, associado a estar mais perto das bordas delas. O Brasil está no centro, então a chance de ter um acúmulo de lava que gere um vulcão é muito pequena. Os terremotos também estão associados às placas e, por causa disso, as chances de tremores mais fortes também são pequenas”, analisa Collaço. Ele lembra que o maior terremoto já registrado no país teve 6 pontos na Escala Richter e não causou qualquer dano. Ele foi registrado no ano de 1955 na Serra do Trombador, no Mato Grosso do Sul, e teve magnitude de 6,2. Apesar da força considerável do tremor, a pouca quantidade de moradores do interior do centro-oeste fez com que ninguém ficasse ferido.

O tsunami que atingiu o Brasil

Tendo como premissa que os tsunamis são um resultado dos encontros de placas tectônicas, a ocorrência deles no Brasil também são baixíssimas. Na história, um fenômeno do tipo só foi registrado uma vez, em 1º de novembro de 1755, quando um terremoto sentido em Lisboa causou ondas gigantes que atingiram parte da África, Estados Unidos e o litoral de Pernambuco e Bahia. A estimativa é de que os tremores tenham beirado os 9 graus na Escala Richter, sendo um dos mais fortes da história. Ainda assim, os impactos na costa brasileira foram baixos. “O sismo de Lisboa foi um megaevento que aconteceu no mar e teve um deslocamento vertical da coluna d’água. Essas ondas acabaram chegando aqui no Brasil. Mesmo assim, quando chegaram aqui, estavam muito mais atenuadas. Não causaram estragos como os que a gente vê no Chile, Indonésia, Japão [hoje em dia], que as ondas vêm quebrando tudo que veem pela frente”, explica Collaço. A raridade dos escritos sobre o assunto tornam o impacto do evento no Brasil nebuloso, mas, segundo cartas datadas da época, as únicas mortes registradas seriam a de um casal levado pelas águas no litoral sul pernambucano.

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