Renan pediu desculpas por requerimento contra a Jovem Pan, mas ato irresponsável não pode passar batido

Bruce Petersons
Bruce Petersons

A CPI da Covid-19 é mesmo um circo, mas o espetáculo é melancólico e chega a ser vergonhoso pelo desempenho da maioria de seus personagens. São horas jogadas fora, um tempo que se perde em discussões inúteis. Ao relator Renan Calheiros (MDB), por exemplo, falta apenas um holofote direto sobre sua figura de inquisidor. Pois a sessão sempre começa com ele, depois de uma conversa arrastada do presidente da Comissão, o senador Omar Aziz (PSD), que fala sobre o óbvio e mesmo assim se atrapalha. Nesta terça-feira, 3, o relator Renan Calheiros, com mais de 10 processos nas costas por corrupção e outros delitos, a maioria no STF, iniciou a parte que lhe cabia pedindo desculpas à Rádio Jovem Pan de São Paulo por ter requerido a quebra de sigilo bancário da emissora das mais conceituadas do Brasil, dizendo que tratou-se de um equívoco. Assinalou o inquisidor que fez de sua vida uma luta constante pela liberdade de expressão. No entanto, outros veículos de comunicação e opinião na internet continuam na lista dos que serão investigados.

Certamente, o nobre senador desconhece a história de quase 80 anos da Jovem Pan, que sempre se dedicou à informação honesta e à prestação de serviços à população, com passagens memoráveis na história da radiodifusão brasileira. Uma rádio que agora virou TV e se dedica 24 horas por dia a informar sobre os acontecimentos brasileiros e internacionais, trabalho desenvolvido por uma equipe de jornalistas qualificados para esse fim no Brasil, além de correspondentes nos Estados Unidos e Europa. Uma emissora que defende a livre expressão com um noticiário esclarecedor. Certamente desconhece o senhor senador as campanhas memoráveis da Jovem Pan em favor da sociedade, questionando as autoridades e respeitando as opiniões, dando espaço democraticamente à informação que preza pela credibilidade. Sua Excia. pediu desculpas, mas não é tão simples assim. Um ato de absoluta irresponsabilidade e inconsequência não pode passar assim com algumas palavras, como se estivesse prestando um favor. No fundo e na verdade, Renan Calheiros sabe bem o que significa a Rádio Jovem Pan de São Paulo no cenário da informação no Brasil, levando a notícia a mais de 100 emissoras em todo o país, tendo o ouvinte em primeiro lugar para informar os fatos com absoluta seriedade. Por isso, a emissora merece o respeito da população que adquiriu ao longo do tempo, sempre presente, testemunha de seu tempo, marcando sua posição firme diante dos acontecimentos.

O senador deve saber que, onde estiver a notícia, lá estará também o microfone da Jovem Pan, realizando reportagens que entrarão na história do jornalismo brasileiro. Antes de iniciar sua inquisição ao depoente, o senador pediu desculpas por seu equívoco, como afirmou. Na verdade, um “equívoco” com propósito, porque as figuras que culpam o jornalismo de tudo se multiplicam no Brasil. Por isso, a Jovem Pan vai continuar a trilhar o seu caminho de lidar com a notícia como a notícia é, sem nunca distorcer a verdade dos fatos que envolvem este país em descaminhos muitas vezes inacreditáveis. A sessão da CPI desta terça-feira foi lastimável, como aliás é de praxe. Houve até discussões inflamadas em nome da “serenidade”. Alguém disse que “é fundamental que a CPI não pode se envolver com a política”. Depois de alguns provérbios bíblicos de vários expoentes da misericórdia, os senadores tanto da oposição como os governistas fizeram aquele discurso de sempre.

Os governistas falam como se o Brasil estivesse vivendo num mar de rosas. Os da oposição falam de um país mergulhado no inferno. Alguém lá perdido no recinto da CPI chegou a dizer que a vacinação contra a Covid-19 no Brasil é um exemplo para o mundo. O depoente reverendo Amilton Gomes de Paula se apresentou falando de si mesmo na terceira pessoa. Pelo que informou, é uma das maiores personalidades do mundo. Ninguém sabe ao certo de onde veio ou a que se refere esse “reverendo”. É o fundador da organização não governamental chamada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, com sede no Distrito Federal. Pois o reverendo se envolveu num fato mal explicado de negociação de vacinas para o Ministério da Saúde, sempre repleto de histórias estranhas neste tempo de pandemia. O reverendo não esclareceu nada. Nem sabe como chegou ao governo. Não sabe com quem conversou. O reverendo não sabe de nada. Parecia alguém perdido sem rumo procurando uma saída urgente. No final, o reverendo chorou. É provável que até agora ele não saiba o que aconteceu. É mesmo um circo. Um circo mambembe, com um espetáculo melancólico que tem a cara do Brasil.  

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