Saudades daquele 7 de Setembro de antigamente quando saíamos às ruas para assistir ao desfile militar

Bruce Petersons
Bruce Petersons

Todos são heróis e patriotas de um país que não sabemos se de fato ainda existe. Todos estarão nas ruas. Não existe mais aquele Sete de Setembro da escola, quando as crianças saíam às ruas com pequenas bandeiras brasileiras de papel para assistir ao desfile militar, com seus tanques, armamento, cavalaria, soldados marchando como se estivessem indo para uma guerra. Fosse qual fosse o governo, a comemoração nos enchia de orgulho pelo Brasil. O coração era ainda muito pequeno para compreender. E o pequeno coração acenava ao desfile que, quase sempre, tinha transmissão direta e ao vivo pela televisão. As senhoras até vestiam a roupa de domingo para ir ao desfile e dar vivas ao Brasil. Hoje não existe mais no país esse cenário que parece estar definitivamente apagado. Mas ainda vive na memória de muitos. O Sete de Setembro não existe mais. Hoje está tudo diferente.

Hoje é um desfile de ódios, de pronunciamentos inconsequentes, de disputas e de um cinismo que cobre tudo. O Brasil mais parece um objeto do desejo de uma gente que pouco vale na avaliação do caráter. O Brasil parece morto e hoje, Sete de Setembro, se reduz em mais um dia de seu enterro de todos os dias. Um país com um Judiciário partidarizado de maneira aviltante, em que ministros do chamado Poder Judiciário, a Corte suprema, tomam decisões impossíveis de compreender. Um ex-presidente preso pelo maior escândalo de corrupção do mundo de repente está nas ruas, solto e livre, inocentado de todos os crimes que cometeu por essa justiça menor e leviana, por meio de uma manobra que representa um acinte. Um tapa na cara. Não bastasse essa afronta, esse ex-presidiário ainda fala em brasilidade, como se fosse tudo normal. De outro lado, um presidente da República que ainda não sabe que é presidente da República e repete as suas cenas deprimentes de quando pertencia unicamente ao baixo clero da Câmara dos Deputados. Seu retrato mais fiel foi mostrado ao mundo pela sua conduta diante da pandemia, sempre com descaso e deboche. Sempre com discursos irresponsáveis e ameaças.

Uma pátria que nos machuca todos os dias pelos descaminhos e desenganos, que ninguém mais sabe se de fato é uma pátria ou apenas um arremedo de país. Uma pátria que dispõe de um Congresso onde o que vale mesmo é a manobra política, poucos se salvam dessa postura indecente. Os congressistas que se vendem para apoiar o governo, seja ele qual for. Não existe mais o Sete de Setembro da pátria. Isso passou a ser uma conversa esquecida num canto qualquer, onde as ratazanas aguardam o momento de agir. Todos os heróis e patriotas estão nas ruas. Todos eles se dizem detentores das maiores virtudes. Mas resta-nos o consolo de saber que não é possível enganar a todos o tempo todo. Um dia tudo isso acaba para que a pátria passe a existir de verdade no roteiro de sua Independência, não isso que aí está, com tantas bandeiras manchadas, com mensagens falsas, com remédios milagrosos. Um dia isso haverá de acabar e esse discurso mentiroso de tantos haverá de desaparecer para sempre. É assim que pede a civilidade. É assim que pede um país verdadeiro. É assim que pedem os homens de bem. É assim que pedem as mulheres que saem à luta. O Brasil, hoje, é mais uma imagem quase invisível aos nossos olhos. E temos hoje um dia inteiro para manifestações em que vale tudo, menos a comemoração do Dia da Independência, se é que o Brasil é mesmo uma nação independente. Já não se sabe mais. O que se sabe é que o Brasil segue uma espécie de féretro de si mesmo, cada vez mais fundo de sua própria sepultura, coberto de sombras e desgovernos que lutam entre si para ver o desmoronamento definitivo. Esse é o cenário deste Sete de Setembro. É isso que fizeram do país. Hoje é Sete de Setembro, vamos comemorar nossa miséria.

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