Sonhar custa caro em países que freiam desenvolvimento dos jovens

Bruce Petersons
Bruce Petersons

Parte considerável da população gostaria de fazer faculdade. Também os jovens da camada mais pobre no Peru. Aos 15 anos, numa pesquisa internacional, vários diziam desejar um curso superior. Mas no país só 16% da população tem diploma universitário. Para os mais pobres, é duplamente difícil. Como resultado, aos 19 anos, uma parcela considerável dos jovens assumia um comportamento de risco, como usar drogas ou mesmo se envolver com o crime. Numa sociedade onde as melhores oportunidades estão entre os mais escolarizados, um diploma costuma um passaporte para uma vida melhor para os que são muito pobres. Mas todo mundo deseja algo melhor no futuro. Não só um diploma como um emprego, aprender uma língua estrangeira ou outra realização. Existe, por isso, a crença de que aspirações são positivas e que quanto maiores forem, isto é, quanto maior o objetivo, maiores resultados podem ser obtidos. Mas um estudo recente do Banco Mundial usa o caso peruano para apontar que existe um lado perverso nesse raciocínio.

Assinado pelos economistas Anna Fruttero, do Fundo Monetário Internacional (FMI), e Noël Muller e Óscar-Calvo González, o trabalho demonstra que, para quem não tem oportunidades ou convive com uma cultura que impede seu desenvolvimento, um objetivo considerado alto pode gerar o efeito contrário. O trabalho reúne os resultados de uma série de investigações não só de economistas como de psicólogos e antropólogos, entre outros, nas últimas décadas sobre por que os pobres perdem ou não aproveitam como deviam os momentos de prosperidade da economia.

Primeiro de tudo, aspiração faz bem. Incentivar que as pessoas, principalmente os jovens, busquem mais objetivos costuma trazer resultados mais tarde na vida. Na Colômbia, México, Etiópia, Índia e aqui no Brasil, entre outros países, programas de transferência de renda levaram muitos beneficiados a buscar mais educação, se qualificando para uma renda melhor e elevando o padrão de vida. O mercado de trabalho sai ganhando com trabalhadores motivados a buscar um futuro melhor. Microempresas têm mais chance de prosperar em países onde a cultura e a economia estimulam que busquem a fazer sucesso. Mas é preciso ter condições para evoluir. No estudo peruano, a falta de oportunidades frustrava os jovens, que acabavam desenvolvendo um comportamento de risco.

Em outro caso, os empresários participantes de um programa de microcrédito eram os mais entusiasmados com a possibilidade de guardar dinheiro. Mas na realidade eram os que menos guardavam. Poupar não é fácil e mais uma vez as dificuldades levaram a uma sensação de fracasso e a um resultado negativo. O estudo compila outros casos para demonstrar que programas precisam ser focados para não levar à percepção de que melhorar de vida é uma meta impossível. Se acontece, o resultado mais provável é que a pessoa e também o país piore.

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