Crescente demanda por carros elétricos desperta interesse de indústria por lítio, aponta estudo

Bruce Petersons
Bruce Petersons

Considerado um metal de transição energética, o lítio tem chamado a atenção de empresas do setor privado, instituições de pesquisa e governos por conta da crescente demanda por veículos elétricos no mundo que tende a seguir alta neste século.

A afirmação é da professora e pesquisadora Carina Ulsen, coordenadora da pesquisa de caracterização das formas de ocorrência do lítio em pegmatito, desenvolvida no Centro Multiusuário do Laboratório de Caracterização Tecnológica (LCT), sediado na Escola Politécnica da USP.

Dentre as principais justificativas para esse aumento na demanda por lítio (Li2O), a professora aponta a necessidade de reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) e a possibilidade do nível dos depósitos de combustíveis fósseis atingirem patamares preocupantes no longo prazo.

“É um alerta da comunidade internacional que pode trazer ganho de consciência ambiental, ao mesmo tempo que abre espaço para um mercado focado em energia mais limpa, sendo o lítio um metal importante para a transição energética”, diz.

A afirmação da coordenadora do LCT pode ser corroborada a partir dos números. Isso porque a venda de carros elétricos representou 15% do total de veículos vendidos em 2022 no mundo, o que corresponde a 847 mil veículos emplacados, conforme dados da EV-Volumes.

No Brasil, no mesmo ano, as vendas de carros elétricos e híbridos (movidos a energia elétrica e etanol) atingiram o número recorde de 49.245 emplacamentos, alta de 41% na comparação com 2021, ano em que foram vendidos 34.990 veículos no país, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

No entanto, apesar da preocupação ecológica que justifica o aumento da demanda por lítio, Carina destaca que a extração e produção desse mineral não é isenta de impactos ambientais. “Por isso entendemos que a caracterização dos minérios é essencial para identificação das formas de ocorrência dos minerais de interesse e para o desenvolvimento de rotas de processamento de menor impacto ambiental possível”.

A caracterização do minério pode ser entendida como a etapa que busca identificar os componentes, a qualidade e textura do material analisado, como ocorreu no estudo desenvolvido pelos pesquisadores. Segundo a professora, a etapa também é uma das maneiras mais seguras para identificar o potencial econômico de amostras mineralógicas.

“Na pesquisa, analisamos dez amostras justamente com o intuito de identificar o potencial econômico do material, a partir dos elementos que o compõem, como é o caso da rocha pegmatítica que contém o minério lítio.”

Brasil: A próxima potência na produção em lítio?
No artigo científico publicado, a pesquisadora, juntamente com a equipe de pesquisadores egressos do LCT: Renato Contessotto, especialista de microscopia na Carl Zeiss, e Marco Timich, especialista de microscopia na TechInsights, Canadá, apontam que os depósitos de pegmatitos enriquecidos em lítio do Brasil são estratégicos para a economia nacional por conta da crescente demanda por veículos elétricos.

A observação dos pesquisadores vai de encontro ao relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), publicado em 2022, que afirma que a demanda por baterias de veículos eletrificados passará de 340 giga-watts/hora (GWh) para 3.500 GWh até 2030.

“Esses números só reforçam a tese de que já estamos vivendo uma corrida pelo lítio e de que esse mineral é de interesse estratégico para o Brasil, tal qual é para a Austrália, Chile, China e Argentina, atualmente os maiores produtores de lítio do mundo”, analisa o pós doutorando Hudson Queiroz.

Estudos que envolvam a identificação, caracterização e o desenvolvimento de processos de extração e beneficiamento na cadeia mineral são essenciais para que o nosso país ganhe competitividade no cenário internacional, saindo do 5° lugar, talvez disputando o primeiro posto como maior provedor de lítio do mundo em um futuro próximo, avalia Hudson.

No Brasil, o lítio pode ser encontrado em grande proporção nos depósitos de pegmatitos, rocha similar ao granito e com grande ocorrência no Brasil. No entanto, nem todo pegmatito é rico em lítio, o que cria a necessidade de investigação, observa o pesquisador.

“Tendo em vista as características do lítio, é necessário técnicas e equipamentos de alta complexidade para identificar os minerais portadores de lítio e suas formas de ocorrência”.

A dificuldade, e também, uma importante descoberta do trabalho publicado, foi detectar a presença de lítio em minerais que tipicamente não são portadores do elemento, destaca Marco Timich, informação essencial para os estudos subsequentes.

Outro desafio a ser enfrentado no trabalho é expandir a pesquisa para avaliar os impactos gerados na produção de lítio ao longo de toda cadeia produtiva, como esclarece Carina:

“Isso porque há dois tipos de depósitos de lítio com características muito distintas (salmouras ou rochas) e a explotação de um ou de outro segue processos muito distintos, sem contar ainda os biomas característicos de cada uma das regiões”.

O que é pegmatito e qual a sua relação com o lítio?
“Pegmatito é um tipo de rocha formada a partir do resfriamento do magma que pode apresentar variações químicas e texturais complexas que são refletidas na abundância e distribuição do lítio dentro do corpo rochoso”, explica o Dr. Hudson Queiroz.

Ou seja, o pegmatito é uma rocha que contém vários minerais os quais podem conter lítio. Mas ele reforça que apenas algumas ocorrências de minerais apresentam teores de lítio economicamente viáveis para extração e produção mineral.

“Outro fator importante na caracterização de um corpo pegmatítico litinífero é o grau de alteração (hidrotermal e/ou intempérica) a que a rocha foi submetida, pois estes processos geológicos podem decompor os principais minerais litiníferos lixiviando este metal da estrutura”, acrescenta o pesquisador.

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